SOUZA, Antonio José de. O já-dito e não-dito acerca das identidades e cultura afro-brasileira: histórias de vida-formação-profissão dos docentes de classes multisseriadas. Curitiba: Editora CRV, 2018

 





Ficha técnica

Livro: O JÁ-DITO E NÃO-DITO ACERCA DAS IDENTIDADES E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: histórias de vida-formação-profissão dos docentes de classes multisseriadas

Autor: Antonio José de Souza.

Sinopse: Trata-se de um livro decorrente de uma pesquisa-formação atravessada pela metodologia (auto)biográfica que exigiu a realização do Ateliê (auto)biográfico no município de Itiúba, interior da Bahia, com docentes de classes multisseriadas, no intuito de oportunizar a produção de experiências de formação, a partir da relação entre educação e questões étnico-raciais. A pesquisa-formação revelou, entre outras coisas, que antes mesmo de se recorrer às informações contidas em compêndios, livros e pesquisas acerca das questões já mencionadas, foi preciso refletir sobre o lugar do negro nas histórias de vida desses professores/as, para que, dessa maneira, fosse possível pensar em uma proposta construída com eles/elas, a partir de suas próprias trajetórias de vida/formação/negação. As falas dos/as professores/as desvelaram o que se tornou escondido e marginalizado nas relações familiares, na iniciação escolar e em todo o percurso da educação básica, culminando nos espaços formativos intrínsecos à profissão docente, no tocante ao estudo da identidade e da cultura afro-brasileira. Portanto, este livro pretende ser um aporte para estudos e formação acerca das questões étnico-raciais e, consequentemente, aproximar o disposto na Lei nº 10.639/2003 da prática pedagógica dos/as docentes de classes multisseriadas.

Palavras-chave: Lei nº 10.639/2003. Docência. Ruralidades.

Área de conhecimento: Ciências Humanas

Tema: Debates sobre questões atuais em educação e ensino

Editora: Editora CRV

 Link do livro: https://editoracrv.com.br/produtos/detalhes/33195-o-ja-dito-e-nao-dito-acerca-das-identidades-e-cultura-afro-brasileira-brhistorias-de-vida-formacao-profissao-dos-docentes-de-classes-multisseriadas

Ano de publicação: 2018

Como citar: SOUZA, Antonio José de. O já-dito e não-dito acerca das identidades e cultura afro-brasileira: histórias de vida-formação-profissão dos docentes de classes multisseriadas. Curitiba: Editora CRV, 2018.

 

 


O JÁ-DITO E NÃO-DITO ACERCA DAS IDENTIDADES E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: HISTÓRIAS DE VIDA-FORMAÇÃO-PROFISSÃO DOS DOCENTES DE CLASSES MULTISSERIADAS

 

Antonio José de Souza

Doutorando do Programa de Pós-graduação em Família na Sociedade Contemporânea - Universidade Católica do Salvador (UCSal). Professor da Educação Básica do município de Itiúba/BA. Professor colaborador da Especialização em Educação do Campo (IF Baiano/Serrinha). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). E-mail: tonnysouza@gmail.com

 

A PERSPECTIVA INICIAL

 

Trata-se de um livro que é resultado de um estudo acerca das questões étnico-raciais na Educação Básica, cujo objetivo foi identificar como a identidade e a cultura afro-brasileira emergiam nas histórias de vida e formação-profissão do (a)s docentes de classes multisseriadas na roça. Buscou-se compreender, ainda, os sentidos construídos pelo (a)s docentes, a partir da relação entre educação e questões étnico-raciais.

É um produto decorrente de uma pesquisa-formação atravessada pelos princípios da fenomenologia e da hermenêutica, e que, através da metodologia (auto) biográfica e do uso das histórias de vida e formação, revelou o despreparo do (a)s docentes da roça em cumprir a Lei Federal nº 10.639/2003, que determina a obrigatoriedade do ensino da cultura afro-brasileira. As condições apresentadas pelo (a)s docentes conduziram à reprodução negativa da identidade e da cultura negra, impactando, de maneira determinante, as práticas pedagógicas.

Para o desenvolvimento desse documento, realizou-se o Ateliê (auto) biográfico no município de Itiúba, interior da Bahia, com docentes de classes multisseriadas, no intuito de oportunizar a produção de experiências de formação, a partir da relação entre educação e questões étnico-raciais. A pesquisa-formação revelou o quão distantes estão o (a)s docentes de classes multisseriadas da roça dos estudos, leituras e materiais pedagógicos que os auxiliem na prática educativa, no tocante às identidades e à cultura afro-brasileira. No entanto, percebeu-se que antes mesmo de se recorrer às informações contidas em compêndios, livros e pesquisas acerca das questões já mencionadas, foi preciso refletir sobre o lugar do negro nas histórias de vida desses professores (a)s, para que, dessa maneira, fosse possível pensar em uma proposta construída com eles (elas), a partir de suas próprias trajetórias de vida/formação/negação.

As falas do (a)s professores (a)s desvelaram o que se tornou escondido e marginalizado nas relações familiares, na iniciação escolar e em todo o percurso da educação básica, culminando nos espaços formativos intrínsecos à profissão docente. Portanto, esse livro pretende ser um aporte para estudos e formação acerca das questões étnico-raciais e, consequentemente, aproximar o disposto na Lei nº 10.639/2003 da prática pedagógica do (a)s docentes de classes multisseriadas.

 

O PROCESSO

Essa obra é parte do trabalho de conclusão de curso apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Diversidade da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no âmbito de linha de Pesquisa I – Formação, Linguagem e Identidades, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Educação e Diversidade sob a orientação da Professora Drª Jane Adriana Vasconcelos P. Rios.

O livro está organizado em cinco seções. Na primeira, intitulada INTRODUÇÃO – Trajetórias Entrecruzadas: meu encontro com a negritude –, escrita em primeira pessoa, pois parto da minha história de vida para revelar a implicação com tema; afinal, a obra tem o seu nascedouro no meu lugar de fala e de existência como professor negro no interior da Bahia. Na PARTE 1 – Tece, desfia e fia os caminhos da pesquisa –, apresento minhas escolhas metodológicas e epistemológicas pela descrição e sistematização das itinerâncias da pesquisa e dos dispositivos que foram utilizados nesse percurso.

Na PARTE 2 – Identidades, Culturas e Educação: nós e os “outros” –, entrecruzo minha voz a diversas outras vozes que me encaminharam pela compressão das similitudes e das diferenças entre eu/outro, demonstrando o quanto essa relação integra a identidade, mesmo na atual conjuntura pós-moderna, que também tem sido chamada de modernidade líquida (BAUMAN, 2005), logo um tempo de relações movediças (BAUMAN, 2007), palco da hibridização (CANCLINI, 2013) e da mestiçagem (HALL, 2014) conceitual do multiculturalismo, imbricado à educação, na perspectiva das relações étnico-raciais. Esta parte do livro oferece, em termos gerais, um estudo teórico que tem por finalidade a discussão de conceitos fundamentais para a formação docente, no tocante à cultura e à identidade afro-brasileira.

Em Docência e Cultura afro-brasileira na roça – PARTE 3 –, focalizo o lugar da educação a partir da ação docente aplicada ao contexto rural, em classes multisseriadas, estando atento aos malefícios de uma prática pedagógica monocultural, firmada por um caráter essencialista, que decreta a roça como um não lugar identitário, produzindo uma abstração marginal. Essa parte do estudo demonstra que, na mesma proporção em que a educação descontextualizada submerge, numa relação de poder e de dominação, a cultura da roça; esta também é enclausurada pela identidade e a cultura afro-brasileira, quando a prática pedagógica é forjada pelo mesmo discurso que fabricou o mito do (a) negro (a) feio (a), ruim e sujo (a). Na sequência, a última seção, chamada – Derradeiras e Remanescentes Palavras: fica o dito pelo bem-dito –, ou seja, as ponderações e encaminhamentos finais do trabalho.

               

POR FIM

O referido livro merece ser lido, pois, de acordo com o que é dito no prefácio pela professora Jane Rios (2018, p. 15), este “[...] nos coloca diante das tensões e conflitos vividos na docência na relação com a negritude, desde o momento em que o (a)s docentes são convidados a buscarem as suas próprias identidades étnico-raciais [...].”. Portanto, constitui um lugar onde as histórias de vida, formação e profissão docente, em contextos rurais, ganham centralidade, sobretudo por que estão imbricadas e assinaladas por uma mestiçagem de vozes silenciadas no sertão baiano.

Nesse sentido, metaforicamente, o (a)s docentes teceram aqui um “tapete” de experiências de vida, com o propósito de trabalhar com a reflexividade biográfica construída a partir das categorias fundantes deste trabalho, que são a identidade, a cultura afro-brasileira e a docência.


REFERÊNCIAS

BAUMAN, Z. A vida fragmentada: ensaios sobre a moral pós-moderna. Tradução de. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2007.

BAUMAN, Z. Identidade. Tradução de. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

BRASIL. Lei 10.639/2003, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9. 394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília.

CANCLINI, N. G. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução de. São Paulo: EDUSP, 2013.

HALL, S. Quem precisa da Identidade? In: SILVA, T. T. (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Tradução de. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 103-133.

RIOS, J. A. V. P. Prefácio: entre identidades e diferenças nas classes multisseriadas. In: SOUZA, A. J. de. O já-dito e não-dito acerca das identidades e cultura afro-brasileira: histórias de vida-formação-profissão dos docentes de classes multisseriadas. Curitiba: Editora CRV, 2018, p. 13-16.

Comentários

  1. Olá!

    É com imenso contentamento que iniciamos o I Congresso Internacional Online de Educação Profissional, Territórios e Resistências. Desejo que seja um evento de fecundos diálogos e reflexões auspiciosas sobre o papel da educação e suas relações.

    Recomendo o estudo atencioso do resumo expandido sobre o livro: O JÁ-DITO E NÃO-DITO ACERCA DAS IDENTIDADES E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: histórias de vida-formação-profissão dos docentes de classes multisseriadas, escrito por Antonio José de Souza.

    Trata-se de um livro decorrente de uma pesquisa-formação atravessada pela metodologia (auto)biográfica que exigiu a realização do Ateliê (auto)biográfico no município de Itiúba, interior da Bahia, com docentes de classes multisseriadas, no intuito de oportunizar a produção de experiências de formação, a partir da relação entre educação e questões étnico-raciais. A pesquisa-formação revelou, entre outras coisas, que antes mesmo de se recorrer às informações contidas em compêndios, livros e pesquisas acerca das questões já mencionadas, foi preciso refletir sobre o lugar do negro nas histórias de vida desses professores/as, para que, dessa maneira, fosse possível pensar em uma proposta construída com eles/elas, a partir de suas próprias trajetórias de vida/formação/negação. As falas dos/as professores/as desvelaram o que se tornou escondido e marginalizado nas relações familiares, na iniciação escolar e em todo o percurso da educação básica, culminando nos espaços formativos intrínsecos à profissão docente, no tocante ao estudo da identidade e da cultura afro-brasileira. Portanto, esse livro pretende ser um aporte para estudos e formação acerca das questões étnico-raciais e, consequentemente, aproximar o disposto na Lei nº 10.639/2003 da prática pedagógica dos/as docentes de classes multisseriadas.

    Por favor, ao final da leitura deixe suas considerações e questionamentos (não esqueça de colocar o seu nome completo).

    Participe!
    Um ótimo evento!

    Antonio José de Souza

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  2. Muito interessante o livro e de grande importância a temática. Parabéns!

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  3. Ana Maria Anunciação da Silva24 de setembro de 2020 às 15:25

    Boa noite. De forma muito inteligente e elegante, o autor prende nossa atenção com sua escrita potente, real e poética. Foi uma leitura, que utilizei na minha Pesquisa-ação e que releio sempre, por abordar temas que permeia a realidade da Educação do Campo no país. A obra, nos ajuda a entender a docência em classes multisseriadas, em seus aspectos mais singulares. Além disso, nos convida a pensar a docência em seus aspectos identitários e culturais. Como moradora, discente/docente/pesquisadora do campo/roça esse é meu livro de cabeceira.

    Deixo como questão para o autor:

    Você concorda que Gestores Públicos, têm utilizado as classes multisseriadas como "desculpas", para fazer o fechamento de escolas do/no campo?

    O livro é lindo! Parabéns!
    Espero em uma oportunidade ter meu livro autografado.

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  4. Oi, Ana Maria.
    Tudo bem?
    Espero que sim.

    Não faria uma apresentação melhor do meu livro.
    Obrigado pela gentileza.

    É fato que as escolas multisseriadas são enxergadas de modo excessivamente negativo, entendidas como não-escolas - questão que, inclusive, não foi superada. Com a pecha de um passado "primitivo" e distante do fetiche urbano, seriado, "moderno", tem-se a justificativa oportuna (e dissimulada) para o obstinado antagonismo dos governantes em erradicá-las em nome de uma tal "qualidade" de ensino.

    Obrigado pela pergunta.

    Um forte abraço.

    Prof. Antonio José

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  5. Olá Antonio, que escrita linda sobre a obra. Imagino que as narrativas tenham essa poesia que você descreve. Quero em breve poder ler seu trabalho e mergulhar um pouco mais nessa temática que tenho me aproximado nos último tempos. (Maria Aparecida Brito Oliveira)

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    Respostas
    1. Oi, Cida!
      Tudo bem?

      Obrigado pela participação e por seu carinho!!!

      Forte abraço.

      Antonio José

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  6. Saudações aos participantes!

    Estamos chegando ao fim do I Congresso Internacional Online de Educação Profissional, Territórios e Resistências. Agradeço muitíssimo a participação de todas/os vocês que se dispuseram a estar conosco.

    Refletimos, debatemos e dialogamos, ao fim, estou satisfeito e agradecido pela colaboração de todas/os e até o próximo!

    Abraços!!!

    Antonio José de Souza

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